Quando fui convidada para escrever para o blog do NPOT pelos seus estagiários, alunos do curso de psicologia da Faculdade São Francisco de Assis, uma questão maior se fazia presente para eles, no meio de muitos questionamentos: Como será o pós-pandemia, para os educadores e as crianças ao voltarem presencialmente para as escolas? Qual deve ser nossa prática, como psicólogos, para contribuir para a saúde mental dos envolvidos no dia a dia escolar? 

Os alunos, nestas indagações, provavelmente foram porta-voz de um questionamento de muitos profissionais de diferentes áreas de atuação. Todos, em comum, têm o desejo, a partir de sua práxis, de auxiliar na saúde biopsicossocial dos envolvidos direta e indiretamente: os profissionais da escola, as crianças e as famílias.

Uma pergunta que nos instiga a tentar dar uma resposta. Não é uma resposta qualquer! Como gostaria de ter “a resposta”, para lhes dar! De dizer que vamos dar conta, como psicólogos, dos obstáculos que surgirão cotidianamente, no novo fazer educacional, na volta ao ensino presencial.

Um novo normal, com certeza, pois ainda não temos uma vacina que proteja a todos, pelo menos em um curto período de tempo, com garantias de saúde para a grande maioria da população, apesar dos esforços mundiais para tal feito.

A partir disso, alguns questionamentos devem ser realizados, ao abordamos o retorno de educadores e crianças ao convívio escolar:

– Como garantir o convívio, sem o toque físico das crianças com seus pares e seus educadores, principalmente com crianças de um (1) ou dois (2) anos de idade? Sabemos que os educadores são substitutos das figuras parentais e que muitas crianças ficam mais de 8 horas diárias na escola…

– Como dizer para um professor, que ele não pode abraçar, nem tocar o seu aluno que está demandando um colo, um abraço? Que ele como educador não poderá “educar” a dor do seu aluno? Que o seu aluno terá que ficar sem o contato físico, pelo menos no presente momento? Podendo ter a (re)vivência de um abandono, por não estar “dentro” de um abraço, uma expressão da nossa cultura, que pode significar, entre outros muitos significados, o de ser acolhido na sua dificuldade, e por saberem o quanto o contato físico, além das palavras é importante no desenvolvimento das crianças. Qual mensagem será lida pela criança? Qual mensagem fica para o educador?

As crianças mais velhas, na maioria dos casos, já conseguem compreender as instruções do protocolo de distanciamento social, com um maior respeito às regras. E não estamos abordando aqui as crianças com necessidades específicas!

Pois é, são apenas perguntas simples, mas que geram novas indagações, através de seus desdobramentos na saúde física e emocional de professores e crianças. Pois, sabemos que as realidades das instituições de ensino de nossa cidade, Porto Alegre (RS), apresentam diversas configurações, sejam elas arquitetônicas ou de contingente profissional para lidar com demandas exigidas para o retorno das crianças e dos educadores ao ambiente escolar.

Por fim, gostaria de falar sobre a contribuição do profissional da área da psicologia. Como poderia ser efetuada no contexto apresentado? Devemos pensar como ele sendo um a mais, que pode dar  o suporte emocional, auxiliando nos questionamentos e, principalmente, nos possíveis desdobramentos de tal retorno. Retorno que vem gerando angústia nos sujeitos envolvidos diretamente, traduzindo-se, em alguns casos, em sintomas da ordem do psíquico e/ou somático, principalmente nos educadores, que terão que se adaptar a nova rotina sem ter a certeza de como proceder.

Sintomas psíquicos que como referem Endo e Souza (2015), ao citarem o pai da Psicanálise, Sigmund Freud, podem ser lidos como hieróglifos, a escrita egípcia, que falam da verdade daquele que o produz, de forma subjetiva. Não nos cabe ter a solução, mas sim integrar o coletivo, no processo de escuta da comunidade escolar, na construção de novas possibilidades de estarmos juntos, fazendo circular a palavra, abrindo a possibilidade de construção de um fazer profissional, para que todos se sintam acolhidos na sua singularidade. 

Não devemos fazer uma leitura superficial sobre o quê significa o retorno para cada um. No momento, não podemos pensar no coletivo, mas sim na singularidade de cada sujeito, de cada instituição de ensino. Devemos apostar na construção de uma convivência, quando necessária, mais individualizada, avaliando caso a caso da realidade de alunos e educadores.

Enfim, não temos a solução, mas temos a possibilidade de pensarmos como uma coletividade, como mais paradoxo que isto possa parecer para nós! Fica o convite.

Referência
ENDO, Paulo; SOUZA, Edson. Itinerário para uma leitura de Freud. In: FREUD, Sigmund. Compêndio de psicanálise. Porto Alegre: L&PM, 2015.